A coleção de manuscritos de Fernando Távora guarda vários testemunhos do diálogo epistolar entre Raul Leal e os representantes do chamado “segundo modernismo”. Depois das missivas trocadas com José Régio, publicadas no número 12 da Pessoa Plural, apresenta-se aqui outro conjunto documental, cuja maior parte testemunha das relações entre Raul Leal e João Gaspar Simões, outro diretor-fundador da Presença. Este núcleo inclui também (ou faz referência a) manuscritos reveladores dos contatos mantidos com mais duas figuras de alguma forma ligadas a revistas que apareceram nos anos vinte do século passado: Alberto de Telles Machado e Alberto de Serpa. Os diversos temas tratados têm sobretudo a ver com uma avaliação da figura de Fernando Pessoa e com a situação de Raul Leal enquanto intelectual isolado. Quanto ao primeiro tópico, destacam-se algumas ideias expressas por Leal em desacordo com João Gaspar Simões, refutando a suposta intenção mistificadora presente nas atitudes mais arrojadas e nos escritos mais agressivos do heterónimo Álvaro de Campos, contradizendo a possível influência da eventual homossexualidade platónica de Fernando Pessoa na conceção, que Simões presume “maternal”, dos heterónimos, e impugnando a sua interpretação da despersonalização pessoana como percurso de progressiva espiritualização, antes sugerindo que se tratasse de uma queda da dimensão espiritual para uma vida de sensações terrenas e carnais, em Pessoa todas reprimidas e sublimadas na sua vida mental.
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